Muitas pessoas chegam à terapia psicanalítica com algumas perguntas: “Como é uma sessão de psicanálise? Vou precisar deitar no divã? Como fica o divã no online? Como a psicanálise ajuda as pessoas?”
Essas dúvidas são comuns e justificadas, afinal, existem muitos tipos de abordagens terapêuticas inclusive dentro da psicanálise, então como ficar seguro de que vai funcionar pra você, não é?
Pensando nisso, escrevi esse texto para responder algumas das perguntas mais comuns sobre o assunto e antes de qualquer coisa, gostaria de pedir um entendimento pra você: tudo o que vou falar aqui tem a ver com a maneira como eu lido com a terapia psicanalítica, é a minha forma de atender e ouvir as pessoas. Possivelmente você vai achar muitas outras maneiras e abordagens, então peço que não entenda nada como verdade absoluta e sim como uma das possibilidades disponíveis nesse imenso mundo terapêutico, ok? Obrigada, agora seguimos. 🙂
Como é uma sessão de psicanálise?
Uma sessão começa com o paciente (analisante/cliente = outras maneiras que você vai encontrar para falar de quem vai procurar um psicanalista) trazendo suas questões.
As sessões aqui tem duração de 60 minutos, no geral. Digo no geral porque às vezes é preciso estender um pouco, às vezes é preciso encerrar antes, mas no geral são 60 minutos.
A sessão vai acontecendo a partir da fala do paciente e o mais comum que aconteça é que ele comece a falar de um assunto e termine a sessão em um lugar aparentemente muito diferente de onde começou.
Essa é a tal associação livre, um dos pilares da terapia psicanalítica. Um assunto traz outro, traz memórias que pareciam totalmente esquecidas ou que aparentemente não tem nada a ver com o que se estava dizendo inicialmente.
O que o analista faz?
O analista basicamente escuta e analisa. Pode parecer simples e óbvio, mas a escuta na terapia psicanalítica não é só ouvir.
Enquanto o terapeuta parece estar ali apenas ouvindo, talvez anotando algo que a gente nem imagina o que seja, ele está colocando em prática a atenção flutuante ou escuta ativa, outro dos pilares da psicanálise.
É uma escuta que ouve o inconsciente, liga os pontos do que “parece” sem sentido, analisa como essas coisas surgem na sua psique, porque ela é única e se organiza também de maneira única, mas não sem sentido, pode ter certeza. Na nossa fala, tudo tem sentido. A psique e todos os seus componentes são extremamente inteligentes.
No geral, o terapeuta está ali para ouvir, mais do que falar. Mas conforme as sessões se seguem vai acontecendo também uma construção de vínculo entre paciente e terapeuta que muda tudo. E esse espaço de fala e escuta também vai ficado mais claro.
Esse vínculo também é um dos pilares da terapia psicanalítica e se chama transferência.
Como a psicanálise ajuda as pessoas?
A psicanálise ajuda as pessoas ouvindo-as de maneira muito profunda, construindo um espaço seguro para fazer essa escuta, criando um vínculo seguro e sem julgamento para que esses conteúdos inconscientes possam surgir e depois ajudando-as a entender e reorganizar essas descobertas de si mesmo.
E ao contrário do que muita gente acha, não é o psicanalista que vai te dizer como fazer. Você mesmo vai entendendo como fazer e o terapeuta está ali com esse vínculo forte que vocês construíram para apoiar você nessa caminhada.
Onde o inconsciente entra nisso tudo?
O inconsciente não é um inimigo, bom lembrar. O inconsciente é parte do que pode-se chamar ainda hoje de aparelho psíquico. Uma parte da psique que não está acessível o tempo todo aos nossos comandos conscientes, por isso a psicanálise foi investigando como acessá-lo. E a maneira mais direta para muitas pessoas é através da fala.
Mas por que precisamos do inconsciente? O que ele faz? O inconsciente guarda toda memória, informação e desejos que nós temos. Não só a parte boa, mas também todas as dificuldades reais e imaginárias que fomos tendo ao longo do nosso desenvolvimento, desde o nascimento.
E como estamos falando de uma parte da psique é preciso lembrar que temos ainda o consciente e o subconsciente, ou seja somos complexos e a maior parte do que trazemos de questões mentais e emocionais estão lá nesse pedaço mais profundo, que é o inconsciente.
Mas isso aqui é claro, estou falando de um jeito simplificado, só para você se situar de como é complexo. Existem outros pedaços desse aparelho psíquico também.
Mas onde entra o divã?
O divã foi uma maneira que Freud encontrou, lá na virada do século 19 para o século 20, de fazer as pessoas se concentrarem em si mesmas e no que precisavam acessar.
Muitas pessoas simplesmente não conseguiam falar sobre si enquanto Freud as olhava e aí ele as convidava a deitar no divã e se sentava na cabeceira do divã, de forma que o paciente não o visse e pudesse se concentrar em si mesmo.
Por muito tempo o divã era obrigatório nos consultórios de psicanalistas, hoje já não temos essa imposição e na modalidade online geralmente estamos cara a cara.
Hoje a demanda inclusive é de que o analista esteja no campo de visão do paciente, mas como já disse pra vocês, vai sempre variar entre as abordagens, terapeutas e aqui pra mim, depende bastante de como percebo o que o cliente precisa.
Claro que ainda tem pessoas que preferem realmente não falar olhando para o analista, tem pessoas que esse deitar as relaxa e coloca mais facilmente no estado mental mais adequado para a associação livre, mas hoje já sabemos que não é só no divã que a sessão precisa acontecer.
E no fim das contas…
A terapia psicanalítica é um espaço para se escutar, se compreender e, aos poucos, se transformar.
Não existe um único jeito de viver esse processo. E isso é uma das coisas mais bonitas da psicanálise: ela não te encaixa num molde, ela te ajuda a se conhecer de verdade.